foto: Ellen von Unwerth
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Porque ele a convenceu de que era louca, resolveu procurar a tal clínica.
É bonito esse lugar, assim bem tranqüilo e, mesmo que eu não tenha problema algum, aliás, penso que deve ser história desse povo desocupado, posso fazer de conta que tô em férias. Ai, aquele emprego tá mesmo me matando, tô cheia de relatórios pra fazer, será que vai demorar muito essa consulta? Moça, dá pra ver se o doutor me atende com prioridade, por favor? Se ela soubesse como ando cheia de coisas. A casa tá uma bagunça e ainda tenho que passar pra comprar o vaso que aquele palhaço quebrou. Nossa, agora me lembrei que ele ainda nem tirou tudo lá de casa. E se ele for lá agora à tarde? Vou ligar pra Arlete, ela que deixe ele entrar, pra ver uma coisa… Ah, não me tirem do sério, gente. Já tô aqui nessa clinica não é a toa. Arlete, o Chico passou por aí? Não deixe ele entrar, hein, Arlete! Não deixe! Eu não autorizo. E cuida de tudo, tchau. Ai, meu Deus! Quanto tempo será que ainda vai levar isso aqui? Nossa… que vaso seco, será que não tem uma mulher capaz de jogar água nessa planta, gente! Já são duas horas e eu vou atrasar no almoço de novo. Depois, quando volto, aquele boçal fica pedindo satisfações. Trabalho mil vezes mais do que ele e quer me cobrar alguma coisa, só porque sentou aquela bunda numa cadeira importante. Eu mereço, mesmo. Quando chegar, preciso lembrar de ligar pra Cristina e marcar meu horário, esse cabelo tá vergonhoso, pelo amor de Deus. Ninguém mais dá jeito nisso. Oi, moça, será que o doutor demora? Tô com o horário apertado. Vê isso pra mim? Obrigada! Detesto ter que sorrir quando tô com raiva, fica essa boca congelada aqui. Será que a pessoa percebe? Deve ser muito feio. Eu nunca percebi ninguém se obrigando a sorrir pra mim, sempre me fazem cara feia. Não ligo também, não vim ao mundo a passeio. Boa tarde, doutor, como vai? Posso sentar? Eu não estou muito bem, não. Veja, ando conversando demais comigo mesma, doutor, às vezes, até esqueço que o mundo é cheio de gente. E sabe o que é pior? Eu me faço perguntas e eu mesma me respondo. Não consigo tomar uma decisão sem me consultar antes. Ficamos horas em discussão, eu e eu mesma. Não tá dando mais. É isso mesmo, vou dizer bem assim pra ele, vai parecer mais claro, senão, como vou explicar essa maldita conversa? Posso falar que falo sozinha! Mas eu não falo sozinha, ninguém escuta o que tô pensando… mas é claro, né Clarice, se você está falando sozinha, ninguém precisa escutar. Ah, que saco ter que explicar uma coisa dessas.
Já sei, vou embora! Não, não vou mesmo, agora já estou aqui. Mas está demorando e prometo não discutir mais, se você ceder em algumas coisas. Em quê, por exemplo? Quero fazer amor de quatro. E eu com isso? Pode fazer! Ah, mas como faço isso à vontade se você não pára de me chamar de vaca? Não consigo me sentir bem dando de quatro com alguém me chamando de vaca. É, sei bem, mas quando ele te chama de cachorra você gosta. E daí, cada uma na sua. É… então, como ficamos? Se formos embora você me deixa em paz na hora H? Mas eu vou querer uma coisa também: chupar sorvete todo dia. Ah, nem a pau! Aí eu que engordo! E você acha que é só a sua bunda que dói naquela hora?
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Samantha Abreu
Nossa…
as vezes tenho medo da surpresa q vc me causa
rsss
bjo querida
e vamos pro balaio!!!
Uhhuuu. Que divertido isso!
Quer saber? Quem nunca teve neuras do gênero que atire a primeira pedra!
Tudo bem que essa mulher é um tanto quanto exagerada, sendo 2 opiniões num só corpo e mente. Maaas, quem nunca se auto questinou? Quem nunca se encontrou conversando com si mesmo? Acho isso normal! É, normal…
Mais uma vez, parabéns Samantha!
Vou virar fã sua assim! =D
Beijos e bom fim de semana! 😉
Dupla personalidade feminina é osso duro de roer!!!!!! Hilário!!!!!
Acho que é defeito de fábrica: as mulheres já saem de lá com dupla personalidade feminina. Como se a cabeça não pudesse sair com uma personalidade só…como se a gente tivesse que consultar a nós mesmas antes de qualquer coisa…vai entender!
Beijos
quando digo que isso aqui é uma loucura da porra. uma loucura gostosa, mas uma loucura.
grande abraço, Samantha
Sá, sabe o que eu fiquei imaginando… Essa mulher praticando meditação, assistindo seus pensamentos… Imagina só?!
Muito bem escrito, inteligente e divertido.
Do Falópio, mana!
Beijos!
Samantha, gostei muito do seu texto. É criativo, divertido e a narrativa em muito se parece muito com James Joyce. E você, torna-se cada vez mais uma excelente escritora da literatura feminina. Parabéns. (PS: Muito ansiosa para o dia 30 de outubro???)
Juro que não vejo motivo pra ela estar num psiquiatra. Ela é normal, como tantas outras…
Divertidíssimo!!! E que mulher não possui essa dupla personalidade? Nem preciso dizer que me identifiquei, né?
Bjos, Sá!
gostei!
Ai, ai, o embate interno feminino. Abafa o caso, rs…
* Sá, a letra grande dificulta a leitura, só uma dica. Beijocas!!!
kkkkkkkkkkkkkkkk!!!
ai ai!!! muito bom isso!!
adoro passear por aqui…essa coisa de descontrole…hummm!!! nem sei o que é isso! huasuhuashuas!
beijos querida
Oi,
achei seu blog meio por acaso, via site poema show. Adorei tudo o que li, principalmente o “Mulheres sob descontrole”. Lembrei-me do 02 Neurônio. Descobri depois q vc é amiga da Polly. Trabalhamos juntas na Tom. Mundo pequeno, cheio de possibilidades. Parabéns pelas crônicas. Um abraço, Carol.
Menina, sessão lazer. Já sei onde vir quando eu precisar rir.
Hahahaha!!!
Eu adoro essas mulheres!!
Não tem pra ninguém!!